Texto de autoria de
Ellen Gomes
Universidade Paulista, Brasil
Quem são esses seres especiais que suportam o ambiente extremo do espaço?
Quem são eles?
Targus= “lento”, gradus= “passo”Targus= “lento”, gradus= “passo”
Tardigrada é um filo de animais invertebrados microscópicos relacionados aos artrópodes. São diferenciados em três grupos taxonômicos distintos: Eutardigrada, Heterotardigrada e Mesotardigrada. Eles são conhecidos principalmente pela sua capacidade de sobreviver em condições extremas (leia também HABITANTES DO INÓSPITO) e os experimentos espaciais que estão sendo realizados com esses seres.
Possuem o corpo dividido em 4 segmentos (sem contar a cabeça), quatro pares de pernas sem articulações, e oito patas com quatro a oito garras em cada. Tardígrados em geral possuem entre 0.1 e 0.5 mm, e a maior espécie pode alcançar 1,2 milímetros. São animais microscópicos cosmopolitas, ou seja, podem ser encontrados numa ampla variedade de habitats (oceanos, água doce, ou até sobre filmes de água que se formam sobre as plantas).
O que torna esses seres tão especiais?
Anabiose e Criptobiose: características que são muito relevantes em relação à capacidade de redução metabólica dos tardígrados e sua sobrevivência em situações extremas.
A anabiose é um processo em que há a redução do metabolismo. O animal recolhe as pernas, e ocorre a perda de água, após há a secreção da camada dupla da cutícula, e assim ele fica em forma de cisto.
Já a criptobiose é o estado extremo de anabiose. Ocorrendo a suspensão temporária das atividades vitais. Dando a capacidade de resistir ao vácuo, a longos períodos sem oxigênio, e também ao álcool absoluto etc. Seu envelhecimento é cessado. Para que eles possam entrar em criptobiose, aos poucos vão perdendo a água do corpo e, ao mesmo tempo, se enrolando até que formem uma pequena “bolinha” desidratada, conhecida como cisto.
Quando ele chega ao formato de cisto, seu metabolismo baixa extremamente, cerca de 0,01%do normal, e o teor de água do corpo do animal cai para cerca de 1%. Por conta do metabolismo do animal ficar a níveis tão baixos, onde às vezes nem é possível detectar, a criptobiose também ficou conhecida como animação suspensa.
Explorações espaciais com tardígrados
Em setembro de 2007, um experimento foi conduzido dentro da plataforma Biopan-6, fornecida pela Agência Espacial Europeia (ESA) durante a missão FOTON-M3, e utilizou aproximadamente 3000 indivíduos de duas espécies de tardígrados: Richtersius coronifer e Milnesium tardigradum. O experimento durou dez dias e percorreu a baixa órbita da Terra (258-281 km acima do nível do mar). Assim, esses tardígrados foram expostos ao vácuo espacial, frio e a toda a gama de radiação solar, incluindo os diferentes ultravioletas UV).
As duas espécies sobreviveram bem às condições extremas em que foram colocadas. Quando retornaram ao planeta Terra, um terço deles ainda estavam vivos. Dessa maneira, os tardígrados demonstraram- se os únicos animais nativos do planeta Terra de que se tem conhecimento capazes de sobreviver às condições do espaço extraterrestre sem a ajuda de equipamentos. Surpreendentemente, 10 % dos sobreviventes foram capazes de reproduzir-se com sucesso, produzindo ovos que eclodiram normalmente.
Mais informações: Tardigrades survive exposure to space in low Earth orbit
Tragédia recente
Em 11 de Abril de 2019, um acontecimento trágico ocorreu.
Beresheet (“Gênesis” em hebraico) foi uma sonda israelense, um demonstrador de um pequeno aterrissador com destino a Lua levava consigo um “uma “biblioteca lunar”, onde continha milhões de arquivos digitais sobre o planeta Terra, amostras de DNA humano e um lote de milhares de tardígrados desidratados, a fim de testar a capacidade de sobrevivência desses animais. Porém, durante o percurso seu giroscópio aterrissador (Unidade de Medição Inercial) foi danificado, causando uma cadeia de eventos que levaram ao desligamento do motor principal e, assim, à queda da sonda na Lua.
Sua missão original não conseguiu ser completada, em vez de pousar calmamente na Lua, Beresheet se espatifou. Essa queda espalhou o carregamento dos tardígrados que a sonda levava pela superfície lunar. Os coitadinhos estavam presos em âmbar e em uma fita adesiva. O cofundador da organização acredita que eles ainda estão vivos. E podem ainda voltar à vida se tirados do estado de dormência em que se encontram. Como será que estão por lá?
Por outro lado, apesar da expectativa de sobrevivência dos pequeninos, muitos estudiosos se preocupam quanto à contaminação do ambiente lunar. Como aponta a astrobióloga Lisa Pratt em um comunicado:
A contaminação biológica descontrolada da superfície da Lua não é ideal cientificamente
Lisa Pratt, chefe do Escritório de Defesa Planetária da Nasa.
O problema dessas explorações e o risco de deixar esses seres sobre superfícies lunares, ou de outro local do espaço é que pode haver contaminação biológica desse local com esses seres. Esses sendo capazes de suportarem as condições extremas do ambiente, podem, talvez, se reproduzirem e se proliferarem, e ainda mais já que nesse local não haverá o controlador biológico da espécie, aumentando mais ainda o risco de proliferação.
O que você acha dessa história toda? O que pensa sobre a utilização dos tardígrados para futuras expedições espaciais humanas? Qual a responsabilidade deve se ter para conduzir tais eventos?
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